Palavras Compartilhadas - Rosana Ricalde: Oficinas para professores e material didático de apoio

Agosto a setembro de 2011 Promoção: Serviço Social do Comércio - Sesc. Local: Escola de Ciência Física, no Parque Moscoso.

foto2: Carlos Antolini\ 
Oficinas sobre a produção plástica de Rosana Ricalde para professores das redes públicas municipal e estadual do Espírito Santo e monitores - planejadas e ministradas por Célia Ribeiro
fotos da exposição - facebook Sesc-ES
Trinta e cinco professores de Artes, Língua portuguesa e Ciências da PMV e cinquenta de Artes, Língua ortuguesa e Educação Física de 18 escolas da Grande Vitória e dez monitores participaram de oficinas realizadas em julho e agosto na Escola de Ciência física em Vitória.
O treinamento teve como objetivo instigar uma relação pensante com a produção artística de Rosana Ricalde, bem como estimular o desejo, por parte dos professores, de levar seus alunos para visitarem a exposição e de planejar atividades em sala de aula que dialoguem com os conceitos e|ou a fatura dos trabalhos da artista.
Sendo a maioria dos participantes das oficinas leigos em termos de artes visuais,  foi necessário uma introdução que estimulasse a refletir sobre o conceito de artes visuais.  
Como a produção de Ricalde em Palavras Compartilhadas parte da apropriação de textos poéticos, arte popular e manifestos artísticos brasileiros, estabelecendo uma interlocução com escolas artísticas modernas e a pós-modernidade, foi indispensável introduzir informações visuais, factuais e analíticas sobre a história da arte brasileira. 
Oficinas para os professores da PMV, monitores da Escola da Ciência Física e da exposição Palavras Compartilhadas
Com quatro horas de duração, foram iniciadas com uma discussão, mediada por data show, sobre conceito de arte e história da arte brasileira, seguidas de uma visita à exposição. Após um breve intervalo para café, conversou-se sobre os trabalhos de Ricalde em Palavras Compartilhadas para então ser apresentada sua trajetória artística através de data show e vídeos, e aprofundado o debate pensante sobre sua produção e possibilidades de desdobramentos de trabalhos em sala de aula a partir de conceitos, fatura e temáticas abordadas pela artista.
Oficinas para os professores da RMGV
Com oito horas de duração, além do módulo das oficinas para os professores da PMV, na parte da tarde os professores reuniram-se em grupos por escola para pensarem em atividades interdisciplinares envolvendo questões relacionadas á produção artística de Rosana, finalizando com a apresentação das propostas elaboradas para a totalidade dos participantes.

Data shows produzidos para as oficinas e disponibilizados pelos professores 
1. Trajetória artística de Rosana Ricalde até julho de 2011 http://pt.scribd.com/doc/66117476/
2. Intervenções urbanas de Rosana Ricalde em parceria com Felipe Barbosa: http://pt.scribd.com/doc/66207409/
3. Texto de apresentação de Rosana Ricalde para professores da rede estadual de ensino do ES: http://pt.scribd.com/doc/66279530


Artigo de jornal sobre Palavras Compartilhas
Ribeiro, Célia. Metáforas Visuais. A Gazeta, Vitória, p. 07, Caderno Pensar, 13 ago. 2011.
METÁFORAS VISUAIS
Na exposição "Palavras Compartilhadas", em cartaz na Capital, Rosana Ricalde cria obras a partir de leituras que a instigam
"[...] quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis".
Sobre a Multiplicidade In CALVINO, Ítalo. Seis Propostas para o próximo milênio. São Paulo: 2ª Ed.Companhia das Letras, 1998
A artista Rosana Ricalde, reconhecida nacional e internacionalmente - sua produção já se fez ver na Argentina, Croácia, Espanha, França, Holanda, Japão, México, Porto Rico, Portugal e São Tomé e Príncipe – produz visualidades que dialogam com textos da história da arte do século XX, com obras da literatura nacional e européia e com ditados populares.

Sua matéria plástica é a palavra. Ao fundi-las com imagens Rosana desfaz fronteiras criadas no ocidente entre duas ordens de produção de conhecimento, a sensível, representada pela visão, e a lógica, a partir do texto.

Ela cria seus objetos a partir de leituras que a instigam. E no resultado surgem questões relacionadas ao espaçamento entre o texto e sua recepção, entre o dito e o lido. E nesse espaçamento as possibilidades de apropriação, recriação, combinação do acervo cultural que temos à nossa disposição.

Lúdica, a exposição Palavras Compartilhadas apresenta vinte e quatro trabalhos produzidos entre 2002 e 2007, agrupados em sete séries: Globo, Contrapoemas, Auto-retratos, Provérbios, O tempo muda tudo, Mares e Manifestos.

A primeira série está representada pelo objeto Marco Polo, um globo envolto pelas frases do livro As Viagens de Marco Polo.
Os Contrapoemas incluem duas obras. Cada uma contém um poema de Manoel Bandeira, Versos escritos n’água e Desesperança, transcritos com letras pretas em vinil adesivo aplicado sobre vidro transparente, tendo ao lado outro poema construído por Rosana com palavras antônimas. As versões da artista encontram-se em letras brancas e podem ser lidas apenas na sombra que projetam na parede.
Nos auto-retratos Ricalde apresenta cinco quadros com poemas com este título de Mário Quintana, Cecília Meireles, Manoel Bandeira, Augusto Massi e Graciliano Ramos. Os poemas foram reproduzidos com fita rotuladora e montados em tamanhos que remetem ao padrão dos quadros de artistas que fizeram seus auto-retratos. Cada autor é trabalhado em uma única cor, de maneira que de longe vemos as cores emolduradas, como em obras minimalistas dos anos 60 do século XX, e ao nos aproximarmos percebemos e podemos ler os textos. Neste jogo de auto-retrato em que apresenta o outro através de rótulos (fita rotuladora), a artista nos instiga a dialogar com a obra.
Em Provérbios nos deparamos com uma tela pintada com letras de forma em diferentes cores. À disposição dos visitantes estão dois óculos, um com lentes vermelhas e outro azuis. Eles funcionam como filtros. Ao usá-los sobressaem as letras mais fortes da cor não filtrada e podemos então ler um provérbio.
Em O tempo muda tudo, Rosana traz para a galeria três vidros com areia colorida que encomendou a artesãs cearenses. Cada um, além da tradicional paisagem, contém um trecho do título. Completam esta série cinco fotografias onde os vidros aparecem dispostos diferentemente.
Mares é composta por dois desenhos realizados com a escrita cursiva da artista sobre papel artesanal azul. Na série Manifestos, também conhecida como Exercício das possibilidades, Rosana Ricalde apresenta seis trabalhos gráficos realizados a partir de manifestos artísticos emblemáticos da produção visual brasileira (Manifestos Antropófago de 1928, Ruptura de 1952, Neoconcreto de 1959 e o texto O objeto, de Waldemar Cordeiro, de 1956).
Vale a pena entrar na galeria onde se encontram os trabalhos de Ricalde, como quem entra em um espaço povoado de metáforas visuais, permitindo-se ler/ver as obras com a mesma liberdade e alegria com que a artista dialogou com as referências culturais que acessa e plasma.
Célia Ribeiro
Mestre em estudos literários pela UFES, artista plástica e arte-educadora

Oficinas para professores da rede municipal de Viana – Exposição URU-KU - as disciplinas esquecidas

foto: Tom Boechat

URU-KU - disciplinas esquecidas, Josely Carvalho

Projeto “Re-Invenção de uma cidade”, curadoria Neusa Mendes
Curadoria pedagógica Célia Ribeiro
Galeria de Arte Casarão, Viana, ES - fevereiro a julho de 2011

A artista Josely Carvalho, paulistana que vive entre Nova York e Rio de Janeiro, fez de Viana o seu ateliê, estreitando o diálogo entre a comunidade de Araçatiba, os jovens do bairro Marcílio de Noronha e a arte por meio de vivências, workshops e oficinas narrativas, orientados por ela, com a coordenação pedagógica de Célia Ribeiro.

Oficinas Reflexivas para professores

As oficinas reflexivas sobre a exposição URU-KU – as disciplinas esquecidas envolveram professores de Biologia, História e Artes da rede de ensino público municipal de Viana, e desdobrou-se em três etapas.

Inicialmente os professores foram recepcionados na Galeria Casarão e apresentados ao Programa de Residência Artística de curadoria de Neusa Mendes, iniciado em dezembro de 2010 com a exposição Silentio, de José Rufino, resultado da seleção do projeto [Re]invenção de uma cidade pelo Edital Nacional Arte e Patrimônio-2009. Neste momento foi destacado o aspecto fragmentário da geografia urbana de Viana que instigou a curadora do Programa a escolher este município como local para sua intervenção, visando, através das Artes Visuais, promover a interlocução entre moradores de bairros geograficamente afastados.

Em relação à exposição em cartaz foi apresentado o desafio feito à Josely de Carvalho de trabalhar um projeto de arte/olfativa, sob a curadoria de Kátia Canton, buscando trazer à tona cheiros que guardam as memórias do município de Viana. Também foi descrito o envolvimento da artista com as mulheres quilombolas de Araçatiba e jovens de Marcílio de Noronha. Uma breve narrativa sobre a história do quilombo de Araçatiba e a origem do bairro de Marcílio de Noronha deixou claro o desconhecimento por parte da grande maioria dos professores sobre suas peculiaridades.

Na segunda etapa, de visitação da exposição, os professores expressaram os sentimentos e sensações despertadas em cada um a partir dos módulos da exposição, e discutiram interlocuções possíveis de serem estabelecidas com seus alunos quando levados para visitá-los.

O depoimento,em uma das oficinas, de Wilberth Rodrigues, de Marcílio de Noronha, sobre o envolvimento dos jovens deste bairro com a exposição explicitou o quanto o contato com Josely e o desafio que tiveram auxiliou em uma nova percepção do olfato. Ressaltou que o vídeo, integrante da exposição e produzido com a participação destes jovens, gerou um sentimento de acolhimento pelo grupo do bairro onde residem, fortalecendo os vínculos entre eles e a intensificação de seus encontros e atuação que frutificou na criação do cineclube Cine Via no bairro.

Para concluir foi projetado um data show sobre a trajetória artística de Josely de Carvalho. A partir dele foi desencadeado um debate sobre as temáticas abordadas pela artista (feminismo, violência urbana, guerras étnicas e civis, ofensivas militares empreendidas pelos EUA “contra o terror”, luto, morte, memória, destruição da natureza e de uma cultura por outra), e analisada sua produção artística. Durante toda a discussão foram ressaltadas possibilidades de se trabalhar de maneira interdisciplinar a partir da produção da artista.

Os arquivos digitais produzidos pela curadoria pedagógica contendo textos sobre a produção de Josely de Carvalho e temas abordados em suas exposições, e o data show apresentado, foram disponibilizados para os professores.

O processo da oficina permitiu aos professores vivenciarem as potencialidades de sensibilização de seus alunos para diversas temáticas a partir da experienciação de exposições de artes visuais.

Célia Ribeiro -Curadora Pedagógica
Fotos Waldson Menezes
http:||arteepatrimonio.wordpress.com

Oficinas para professores da rede municipal de Viana – Exposição Silentio

Exposição Silentio de José Rufino, Viana ES
Projeto “Re-Invenção de uma cidade”, curadoria Neusa Mendes
Curadoria pedagógica Erly Vieira Junior e Célia Ribeiro

Oficinas para professores da rede municipal de Viana Texto: Célia Ribeiro Fotos: Gibran Chequer
Os professores do ensino fundamental de Artes e Geografia da rede municipal participaram de oficina voltada para a discussão dos conceitos, da metodologia e da fatura envolvidos na exposição Silentio de José Rufino, realizada na Galeria de Arte Casarão em Viana ES em 2010. Essa atividade faz parte do A oficina disseminou as possibilidades de interlocução entre a exposição e múltiplas disciplinas, bem como propôs atividades para serem desenvolvidas em sala de aula. A partir da visitação interativa à exposição, da assistência de vídeos e de discussões mediadas por informações e imagens, foi sugerido o desenvolvimento da atividade de fatura do livro de artista nas aulas de Artes e Geografia. Os vídeos projetados durante a oficina foram: “Experiência de José Rufino em Viana – do processo criativo à montagem da exposição Silentio”, de Bruno Oliveira e Gibran Chequer; e “Murmúrio” de Erly Vieira, que mostra o envolvimento do artista com um grupo de estudantes da rede municipal de Viana, durante um encontro na cidade.
(Vídeos disponíveis em www.artepatrimonio.wordpress.com)







Oficina experimental para deficientes visuais

de compreensão do campo visual dos videntes, e de leitura tátil de imagens bidimensionais


Entre agosto e novembro de 2009 foi desenvolvida no setor Braille da Biblioteca Pública do ES a Oficina experimental de leitura tátil de imagens bidimensionais, frequentada por nove usuários do setor, cegos ou com baixa visão, duas tardes por semana. A metodologia foi testada em interlocução com Maria Joana de Souza, bibliotecária responsável pelo Setor, as técnicas Bernadete Costa e Elizabeth Mutz, o professor José Carlos da Silva, e com os participantes Fábio Busato, Fernanda de Oliveira Basílio, Gledson Gomes, Hérica Micheli Ferreira, Ingrid Araújo Soares, Leizimara Silva dos Santos, Lucileide Alvarenga A. de Souza, Nathieli Carolina Ferreira e Wanderson Campos de Souza.
A proposta dessa oficina surgiu a partir da exposição Camille Claudel - a sombra de Rodin, de curadoria de Romaric Sulger Büel, no Museu de Arte do Espírito Santo - MAES, entre agosto e novembro de 2006, quando respondia pelo setor de ação-educativa do museu em parceria com Renato Saudino.
Nessa mostra algumas esculturas foram disponibilizadas para deficientes visuais apalparem. Essa experiência bem sucedida gerou o desafio de estender o acesso aos deficientes visuais às demais exposições do MAES.



Como as obras de artes visuais são criadas para serem vistas, mesmo quando apelam a outros sentidos, como é comum na produção contemporânea, o desenvolvimento de uma proposta de inclusão de deficientes visuais a exposições supõe a compreensão do que seja a experiência visual dos videntes, de como ocorre a apreensão visual do mundo à frente do observador, e o entendimento dos mecanismos implícitos na transcrição de imagens “do mundo” tridimensional para suportes bidimensionais palpáveis a que denomino foto-de-recorte e foto-objeto


1º contato com os frequentadores do setor Braille da Biblioteca Pública do ES
O contato inicial com o setor Braille causou-me duas fortes sensações: de encantamento com o ambiente profissional e cordial dominante no setor Braille e de perda de chão de minhas certezas a respeito do primado da visão.
A rotina do setor Braille extrapola o atendimento profissional previsto para uma biblioteca. Funciona também como um centro de vivências onde os freqüentadores além de pesquisarem informações em livros em Braille e em mídias digitais, são estimulados a refletirem sobre temas da atualidade e a enfrentarem desafios para se incluírem em várias esferas da sociedade. Além disso, o ambiente afável implementado por Joana favorece o desenvolvimento de práticas solidárias entre os usuários do setor.
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Setor Braille da Biblioteca Pública Estadual

Convivendo com os deficientes visuais freqüentadores da Biblioteca Pública vislumbrei novas maneiras de percepção do mundo e das pessoas, e estratégias adotadas para se incluírem em uma sociedade pouco aparelhada para recebê-los.


O contato com a possibilidade de captar o mundo e vivenciar as relações entre humanos sem o assédio imperativo e caótico de imagens a que estamos submetidos, por sua vez, fez-me sentir deficiente. Esse abalo reverteu uma reação condolente e piegas que me era bastante comum quando em presença de deficientes: a de buscar dar amparo ao que se julga frágil, sem dar conta de que a fragilidade e o caos são constitutivos da vida.


A oficina

As etapas da proposta inicial das atividades da oficinavoltada para introduzir noções de campo visual dos videntes, e da lógica que rege a transcrição de objetos tridimensionais para suportes bidimensionais, foi mantida. Principiamos pela apresentação unitária de objetos de uso cotidiano com lados simétricos (caixas de leite, latas de achocolatados e vasilhames de sucos, por exemplo), para serem reconhecidos pelo tato e relacionados com fotos-objeto dos mesmos. Paulatinamente introduzimos objetos (leiteiras, cafeteiras, açucareiros, vidros de perfume) e situações mais complexas, como posicionamento variado de utensílios com lados assimétricos e uso de composições sem e com sobreposição visual.


Posteriormente trabalhamos com o corpo humano utilizando imagens fotográficas de modelo de homem e de mulher de pé, em postura frontal, de costas e de perfil e dos participantes. Finalmente foram realizados dois passeios cujo registro fotográfico deu origem a fotos-objetos.


Fotos-objetos - fotografias trabalhadas com relevo para destacar planos, com interferência de linhas sulcadas, algumas vezes recortadas e/ou incluindo partes decartadas, como um quebra-cabeça.

Material didático

Quando a oficina foi pensada propunha-se, como fases intermediárias ao manuseio das fotos-objetos que retratavam composições de utensílios e cenas dos passeios, o uso de maquetes tradicionais e do que nomeamos maquetes bidimensionais.
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As maquetes bidimensionais, em material resistente, seriam compostas pelos planos de profundidade da cena dos objetos, encaixados verticalmente sobre uma base, passíveis de formarem um quebra cabeça quando desmontados. Serviriam de passagem para a compreensão do que seja uma foto-objeto e, consequentemente, do campo visual dos videntes.
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Como a oportunidade de realizar a oficina como funcionária do Instituto Jones dos Santos Neves na Biblioteca Pública Estadual não previa verba para a confecção das maquetes, suprimimos esta etapa.
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Fotos-objetos aa

A confecção das fotos-objetos passou por mudanças significativas na medida em que foram sendo testadas e analisadas em conjunto com os freqüentadores da oficina. Nas áreas coladas das primeiras fotos foram utilizados papéis de baixa gramatura, gerando sobreposições tênues, que eram complementadas com ranhuras produzidas por pontas-secas, instrumento utilizado para confeccionar gravuras em metal.

Embasava essa proposta a suposição de que os participantes da oficina deteriam uma sensibilidade tátil apurada. Entretanto, apenas os cegos de nascença possuíam essa destreza, possivelmente desenvolvida com o uso da leitura em Braille. Já os participantes que se tornaram cegos recentemente, e não dominavam essa linguagem, tiveram dificuldade de identificar as alterações criadas.

A partir dos comentários durante os encontros introduzimos modificações na confecção das fotos-objetos. Uma alteração visou realçar a espessura das áreas de planos. Já nas fotos de composições foi produtivo permitir a retirada das peças correspondentes a cada objeto ou grupamento, como em um quebra-cabeça.

Passeio na Praça do Papa - foto-objeto quebra-cabeça

Passamos com frequencia a recortar o contorno do objeto ou de um conjunto para permitir, além de um tatear, o manuseio da foto buscado quase que instintivamente entre os participantes da oficina. Adotamos também o uso de fotos coloridas devido à curiosidade dos participantes sobre as cores das roupas, objetos, prédios e elementos da paisagem retratados.

Passeio no Museu Ferroviário da Vale do Rio Doce – fotos-objetos de locomotiva com participantes e detalhe

Fotos-objetos dos passeios - paisagens
As cenas dos passeios, devido à complexidade de informações e sobreposições, tiveram que ser introduzidas destacando alguns elementos e suprimindo outros.
Quando apresentamos, por exemplo, a foto-objeto com participantes brincando nas gangorras tendo ao fundo um prédio, os participantes tiveram dificuldade em compreendê-la. Oferecemos então uma foto-objeto de recorte das pessoas na gangorra e outras duas do prédio, expondo sua fachada frontal e lateral, permitindo discutir a proposta do arquiteto de assemelhá-lo a um navio.
Outra solução produtiva foi expor amplitudes diferentes de um espaço. Um exemplo disso foi a foto de grupo na Praça do Papa tendo ao fundo um navio, notificado na ocasião por Joana aos participantes. Este navio foi apresentado ampliado em outra foto-objeto para melhor contato tátil.

Este artifício também foi utilizado na cena do bar do vagão no Museu da Vale do Rio Doce. Ela foi trabalhada em três fotos-objeto: uma panorâmica que incluía o bar, outra do complexo do bar (o vagão e a área coberta) e finalmente de uma cena interior com três participantes juntos a uma árvore situada na área coberta.

As fotos panorâmicas de paisagens foram bem recebidas e propiciaram situar o entorno da região visitada. Serviram também para ilustrar comentários de videntes sobre a paisagem, como foi o caso do deslumbramento expresso no momento em que subíamos o mirante localizado na Praça do Papa.

A foto dessa paisagem além de descortinar o panorama com que se deparam os videntes, viabilizou uma discussão estética sobre os elementos visuais que possivelmente os encanta, como a repetição de padrões presentes nas formas arredondadas das pedras em primeiro plano e das montanhas ao fundo, o contraste entre as áreas com texturas (da vegetação rasteira, dos musgos nas pedras, dos barquinhos, prédios e matas nos morros) e o plano liso do espelho da água do mar. A presença predominante de formas arredondas, por sua vez, criam uma atmosfera de aconchego e envolvimento.

Vista panorâmica a partir do mirante da Praça do Papa - foto-objeto com relevo e textura

Percebemos que o ideal seria apresentar fotos-objetos de vários ângulos de cada elemento com que entram em contato durante o passeio, antes de expô-los incluídos em uma cena. Essa proposta não invalida o trabalho com vistas onde o excesso de sobreposições apresenta o caos visual a que os videntes entram em contato diariamente. Estas situações propiciam introduzir, por exemplo, o conceito de foco.


A apresentação de mapas em relevo sobre o espaço a ser visitado, bem como do percurso entre ele e a Biblioteca Pública podem funcionar como importantes ferramentas de compreensão do espaço urbano e da região do passeio.
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O corpo nas fotos-objetos dos passeios

A construção de fotos-objeto a partir dos registros realizados durante os passeios permitiu, aos participantes, o contato com posturas variadas dos próprios corpos e os dos amigos em situações diversas como caminhadas, subida de morro e em ônibus, brincadeiras em balanços e gangorras, acrobacias nos portais dos trens, etc.
Essa experiência propiciou relacionar o próprio corpo com os dos demais e com objetos e equipamentos urbanos como ônibus, prédios, paisagens.


Agradecimentos
Ao Instituto Jones dos Santos Neves que me liberou por quatro meses duas tardes semanais para desenvolver este trabalho em parceria com a Biblioteca Pública Estadual.
À Rita de Cássia Maia, diretora da Biblioteca Pública Estadual do Espírito Santo, pela receptividade à proposta da oficina.
A Maria Joana de Souza, bibliotecária responsável pelo Setor Braille da Biblioteca Pública, e a sua equipe, Bernadete Costa e Elizabeth Mutz, pelo acolhimento, apoio e acompanhamento crítico durante todo o processo, indispensáveis para o amadurecimento da proposta da oficina.
Ao professor José Carlos da Silva por suas observações e sugestões.
Aos participantes da oficina, Fábio Busato, Fernanda de Oliveira Basílio, Gledson Gomes, Hérica Micheli Ferreira, Ingrid Araújo Soares, Leizimara Silva dos Santos, Lucileide Alvarenga A. de Souza, Nathieli Carolina Ferreira e Wanderson Campos de Souza, pelo envolvimento e disponibilidade durante todas as atividades sugeridas, e por ampliarem minha visão sobre os sensores que dispomos para captar o mundo e a vida.

8º Salão Bienal do Mar

Coordenação operacional e pedagógica da ação educativa da 8ª Bienal do Mar
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Célia Ribeiro e Erly Vieira Júnior
23 de dezembro de 2008 a 05 de fevereiro de 2009
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AÇÃO EDUCATIVA
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Coordenação e organização: José Cirillo e Neusa Mendes
Coordenação operacional e pedagógica:
Erly Vieira e Célia Ribeiro
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Erly Vieira Júnior, Patrícia Mendonça Almeida, Ítalo Ângelo Pereira Galiza, Thiago, Rejane Afonso Teixeira, Célia Ribeiro e Márcia Rodrigues Garcia do Vale

O 8º Salão Bienal do Mar, em Vitória (ES), promoção da Casa Porto das Artes Plásticas da Secretaria de Cultura de Vitória, delimitou uma mudança em relação aos salões anteriores. Transformado em bienal, nacional e internacional, apresentou treze trabalhos de intervenções urbanas de caráter efêmero e temporário, doze a partir de seleção entre os projetos inscritos e um de artista convidado.
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Desafios da mediação entre os passantes da cidade e as intervenções na malha urbana
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O público do espaço público
A ampliação do acesso a obras/objetos de artes visuais na Grande Vitória para além de uma restrita elite cultural é uma realidade recente. Se um considerável número de estudantes, crianças e adolescentes, de Vitória já excursionou com suas escolas em algumas exposições de artes visuais, a grande maioria dos adultos que povoa o centro dessa capital nunca entrou em um museu ou em uma galeria de arte.
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A agenda e o tempo da fruição dos transeuntes no centro de Vitória
A motivação para circular nas cidades obedece a diversas lógicas: a do trabalho no próprio espaço público; a dos deslocamentos para acessar serviços variados, locais de trabalhos, escolas; ver o tempo passar o tempo em uma praça, etc. Na maioria dessas situações a agenda se complica quando atravessada por imprevistos.

Das 13 intervenções da Bienal apenas 6 possibilitaram a intermediação entre monitores e o público
Os monitores da ação educativa puderam instigar a interlocução de maneira sistemática entre pessoas que circulam pelo centro de Vitória apenas com as intervenções Atenção Arte (Jo Name), Folhetim Sereia (Herbert Pablo Bastos), Nós vemos a cidade como a cidade nos vê(Heraldo Ferreira Borges), O Caminho das Águas (Piatan Lube Moreira), Você Vê? (Jean-Blaise Picheral) e O Retorno de Araribóia (Coletivo Maruípe) aaa

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Folhetim Sereia - Hebert Pablo Bastos
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Nós vemos a cidade como a cidade nos vê - Heraldo Ferreira Borges
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Fotos Erly Vieira Júnior

O Retorno do Araribóia - Coletivo Maruípe

Itinerância pelo centro de Vitória de uma réplica da escultura do Araribóia de Carlos Crepaz


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Visita à instalação Você Vê? no dia da abertura da 8ª Bienal - Jean-Blaise Picheral conversa com o prefeito João Coser

A característica pontual em termos temporais e espaciais das sete demais intervenções inviabilizou a mediação entre elas e os transeuntes do centro de Vitória.
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A metodologia
As características dos vários segmentos do público, o desconhecimento dos pedestres a respeito da Bienal, e os comportamentos característicos aos diferentes locais onde estavam cada uma das seis instalações fixas, pontos de ônibus (Folhetim Sereia), Praça Pio XII (Nós vemos a cidade como a cidade nos vê), ruas (Caminho das águas), Praça Pio XII e Avenida Beira Mar (Atenção Arte), terminal aquaviário Dom Bosco (Você vê?), calçadas (ORetorno do Araribóia), desafiaram a construção de uma metodologia diversificada e inédita para os coordenadores operacionais da ação educativa, e para os quinze estudantes de Comunicação, Artes Visuais e Design envolvidos como monitores-intermediadores.
O caráter de novidade das estratégias adotadas reforçou a consciência da necessidade de reflexão durante todo processo da ação educativa, voltada não apenas para gerar intermediações entre transeuntes e instalações, entre grupos agendados para visitas e oficinas, mas também para dentro, para o grupo de monitores e para os próprios propositores da metodologia (os coordenadores operacionais e pedagógicos da Bienal).
Isto gerou um relacionamento reflexivo e democrático entre os participantes e se desdobrou em procedimentos de registros ao longo do trabalho, que incluiu anotações sobre as interpretações, reações, imaginários acessados e construídos por um público ‘alheio’ às artes visuais
Iniciávamos o turno da manhã e da tarde com uma avaliação do dia anterior e o planejamento do que começava. Ao final de cada turno os monitores realizavam um relatório sobre as abordagens do dia, incluindo os diálogos entre transeuntes e entre esses e os monitores. Esses relatórios eram enviados por e-mail a todos os participantes.
Além disso, depoimentos de pedestres foram gravados em vídeo, e máquinas de retrato foram disponibilizadas a transeuntes abordados para fotografarem pontos de vistas que mais lhe instigavam de instalações observadas.
O material desses registros foi analisado e permitiu a construção de estatística das reações e opiniões dos pedestres abordados e geraram edições de vídeo.
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Estratégias desenvolvidas e adotadas para interpelar, conduzir o olhar para as intervenções e instigar a reflexão
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1. Teatro Invisível

Exemplo C - Filipe Frauches Mecenas e Lucas Tristão Ferreira (Fotos Giovanna Maria Pereira Faustini)

Para instigar o olhar e o debate a respeito de algumas intervenções recorremos à forma de encenação do Teatro Invisível desenvolvida por Augusto Boal. Nesta modalidade teatral apenas os atores sabem que existe uma encenação. Os que a presenciam não são espectadores no sentido tradicional, conscientes de estarem assistindo a uma peça ficcional aceita como verdade num jogo de faz-de-conta. As pessoas que presenciam encenações invisíveis julgam e significam o próprio acontecimento e não a performance da encenação.
Esta modalidade foi mais utilizada para a intervenção Folhetim Sereia (Herbert Pablo Bastos) dos pontos de ônibus. O fato de ter um público parado por algum tempo aguardando a condução viabilizou o envolvimento com a encenação. Surgiram reações interessantes.aaa

Exemplo A - Cinco monitores formaram três grupos. A monitora 1 ficou sozinha, em meio às pessoas no ponto de ônibus. Duas amigas (monitoras 2 e 3) chegaram juntas e permaneceram um pouco afastadas da primeira. Pouco depois um casal (monitores 4 e 5) alcançaram o ponto de ônibus comentando que as pinturas ali realizadas eram pichações mal feitas. A monitora 1 aproximou-se, discordando afirmou que eram obras de arte. Perguntou ainda de onde eles eram. Responderam que do Rio de Janeiro.
Várias pessoas prestavam atenção na conversa. Quando eles falaram a procedência um rapaz se manifestou indignado: “No Rio não tem nada disso porque os tiros destruíram os vidros! Bala perdida! Não podem nem fazer nada!”
Um senhor que estava ao lado dele comentou: “É claro que isso é arte! As pessoas confundem, ou acham que não é porque não é uma coisa que está lá bonitinha, penduradinha e com moldura. Não é uma coisa que está num museu. Aí elas não percebem. Mas isso aí é muito legal.”
Outro transeunte disse: “Falam que não é arte porque está aqui em Vitória, se fosse lá no Rio eles diriam que é!”
A discussão se prolongou enquanto os atores se movimentavam entre as obras do ponto de ônibus. As pessoas os acompanhavam com o olhar, algumas tocavam a pintura, passavam a observá-las mais atentamente. Os atores as incitavam a opinar e surgiram elogios e críticas, essas comparando as pinturas com pichações.
Quando o casal de monitores se afastou, uma moça que elogiara as pinturas disse que eles estavam com inveja, por não existir no Rio de Janeiro esse tipo de intervenção, e concluiu afirmando que se essas obras estivessem lá eles achariam lindo!
As duas amigas (monitoras 2 e 3), identificadas como mineiras, começaram a se fotografar junto às obras. A monitora 1 se ofereceu para ajudá-las. Enquanto isso, o casal (monitores 4 e 5) começou uma nova discussão com um senhor, que também era carioca. Ele disse que as pinturas eram horríveis, e que se aquilo era arte os pichadores do Rio eram bem melhores. Disse ainda que pinta e que dá para perceber que a pessoa que fez aquilo nunca pegou num pincel. A monitora 1 continuou argumentando tratar-se de obra de arte e ele retrucou então que era “arte vadia”! Vê uma mulher passar, aponta e comenta: “Isso que é arte!” Em seguida citou a frase de um amigo que costuma expor no Edifício Fábio Ruschi: “é arte o que está e não está ali, é e não é”. A monitora 1 observou que ele acabara de definir a obra do Folhetim Sereia, sem dar atenção embarcou em seu ônibus que chegou.

Exemplo B – As duas amigas (monitoras 2 e 3) estavam no ponto. O monitor 4, afastado e sozinho, inicia uma conversa com uma mulher, ambos criticam negativamente as pinturas. A monitora 1 e a 5, atuando como turistas mineiras, fotografam-se, maravilhadas, junto às pinturas. Um casal idoso intervém na conversa das "mineiras". A mulher concorda e acrescenta que as pinturas deixaram o ponto mais sensual. Já o marido afirma tratar-se de “coisa de doido”, a esposa rebate dizendo: “Ele que é doido, não gosta de nada...”. Relata que o levou para ver as pinturas em outros pontos de ônibus, tendo ele se interessado apenas pelas que mostram o rosto e o corpo de mulheres. A discussão com esse casal durou um bom tempo, chamando a atenção de muitas pessoas. Por fim, a mulher falou para o marido: “Você é burro, não sabe de nada mesmo...! Isso é coisa da Prefeitura! A Prefeitura tá dando aula de artes!”.
Nesse mesmo ponto uma moça disse gostar das pinturas, mas que "aquela com dois corpos de mulheres e dizeres em francês" lhe causava uma impressão ruim por parecer sangue, remetendo a violência.
Enquanto isso o monitora 4 mantém a conversa com outra mulher que achou as pinturas muito cafonas, contrapondo o trabalho nos muros do Instituto Braille “aquelas tampinhas...” como exemplo de arte.

Exemplo C – Dois monitores homens (1 e 2) chegam ao ponto de ônibus apreciando e trocando idéias sobre a pintura, sua fatura, tinta empregada, técnica, etc.
Uma monitora (4) indagou a uma senhora no ponto de ônibus se a pintura era uma pichação, ela com convicção respondeu que não, pois era bonita e realizada com técnica. E ficou observando atentamente a pintura e envolvida na conversa dos monitores até seu ônibus chegar. Um senhor que a acompanhava discordou de seu julgamento.
Uma velhinha perguntou sobre um ônibus que ela queria, e espontaneamente comentou que as pinturas eram muito feias, e que haviam sido feitas à noite por mascarados.
Um senhor identificou dois elementos da equipe “como os autores deste ato de vandalismo”, referindo-se aos monitores 1 e 2.

2. Performance – Encenações sobre O Caminho das Águas

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Tamires Teixeira Nepomuceno, Marcel Nascimento Rosa, Mariana Schmidt, Lucas Tristão Ferreira, Michele Cristine Marques Rebello e Filipe Frauches Mecenas (foto: Célia Ribeiro)
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Monitores na sede da 8ª Bienal antes da performance sobre o Caminho das Águas; 1ª foto: Talita Goulart Arrivabene, Ítalo Ângelo Pereira Galiza e Tamires Teixeira Nepomuceno; 4ª foto: Filipe, Márcia, Rejane, Marianna, Lucas, Michele, Ítalo, Tamires, Giovanna e Patrícia.
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aaaMonitores saindo em busca da linha azul, causando estranhamento nos transeuntes

Fotos de Giovanna Maria Pereira Faustini, Michele Cristine Marques Rebello e Talita Goulart Arrivabene

Exemplos
A monitora Horrana instaurou uma performance sobre O Caminho das Águas. Caminhando sobre a linha azul perguntava aos transeuntes que encontrava se seguindo essa linha chegaria à rodoviária.
Essa idéia desdobrou-se em outras atuações, como andar em fila indiana sobre a linha azul, às vezes simulando gestos de braços como se estivessem nadando. Culminou com uma performance de todos os intermediadores caracterizados como banhistas e em fila indiana sobre a linha, abordando as pessoas, dizendo-se turistas e perguntando onde ficava a praia. Depois do primeiro contato, distribuíam um folder com fotos de Vitória antes do aterro que deslocou as fronteiras do mar, aludida na obra de Piatan Lube Moreira. Este folder foi produzido a partir da iniciativa e do projeto dos próprios monitores, e com recursos dos mesmos. Atitude tomada para atender a demanda por referências fotográficas de pessoas abordadas anteriormente em atividades de divulgação da Bienal.

Frente e verso de folder produzido pelos monitores Filipe Frauches Mecenas, Marcel Nascimento Rosa, Patrícia Mendonça Almeida e Rejane Afonso Teixeira, impresso por Patrícia

3. Incursões urbanas provocativas

Michele Cristine Marques Rebello

Realizada, sobretudo, nas intervenções Nós vemos a cidade como a cidade nos vê, (Heraldo Borges), composta por quatro espelhos dispostos um em frente ao outro e para as placas de Atenção Arte? (Jo Name). Monitores abordavam pedestres na Praça Pio XII e os convidava a entrar nos espaço entre os espelhos, ou estabeleciam uma conversa a respeito dessa instalação ou das placas de alerta de Jo Name. Durante as atuações observaram diferentes comportamentos diante dos espelhos, e obtiveram informações dos comportamentos dos transeuntes com vendedores de coco localizados na praça. Esta técnica também foi utilizada para a intervenção Caminho das águas (Piatan Lube Moreira) e Você Vê? (Jean-Blaise Picheral).

Exemplo de depoimento A - Uma vendedora de coco indagada por monitores sentados ao lado de seu carrinho a respeito do que se tratavam os espelhos no meio da praça, respondeu que era arte na rua, e que enquanto trabalhava costumava ver crianças brincando dentro, pessoas dançando, etc. Relatou que diariamente ia ao espaço entre os espelhos observar os vários pontos da cidade.


Exemplo de depoimento B - Um senhor abordado por monitores disse saber que se tratava de uma obra de arte, mas não compreendia, mostrou preocupação com a possibilidade de roubo dos espelhos ou mesmo sua depredação.

Exemplo de depoimento C - Achou muito legal, disse que sempre devia ter uma obra de arte na cidade, porque o cidadão não tem tempo de ir à galeria ou a um museu. E a arte, estando nas ruas, interage com as pessoas.

Exemplo de depoimento D - Indagado a respeito da linha azul no chão (Caminho das Águas) um senhor respondeu que desconhecia o significado, mas que ele via aquilo todo dia e algumas pessoas passavam por ele e perguntavam o que era. Após a explicação dos monitores disse ser interessante saber como o centro era antigamente, morador há 60 anos em Vitória, viu parte do aterramento.

Exemplo de depoimento E - Um taxista abordado reclamou que era coisa do prefeito, que ele faz coisas sem avisar antes e ninguém sabe de nada. Disse que era porque ele viaja muito e trouxe essa idéia inovadora para o Espírito Santo, mas não avisa o porquê do feito.

Exemplo de depoimento F – Indagado sobre as placas de alerta de Jô Name, um policial disse que nunca havia reparado nelas e que, se não falássemos, jamais teria percebido. Disse que provavelmente se tratava de alguma coisa cultural, porque na Praça Pio XII é comum ocorrer esse tipo de manifestação. Apontando para os malabares de uma das placas afirmou: “Se isso fosse em Gaza eu acharia que é um local de bombardeio” -

Exemplo de depoimento G - Uma senhora abordou os monitores na Praça Pio XII indagando sobre o significado dos espelhos, os monitores devolveram a questão perguntando o que ela achava que era, e ela respondeu que era uma espécie de auto-retrato.


Exemplo de depoimento H - Abordado pelos monitores um senhor disse não haver reparado nas placas, mas que achara muito interessante os espelhos, tão úteis quanto um relógio numa praça pública, sendo que a diferença entre os dois é que você olha o relógio, vê que está atrasado e corre. Já quando vê o espelho, pára para ver sua imagem e junto com ela está a imagem da cidade.

4. Registros fotográficos e depoimentos em vídeoaaa

Transeuntes fotografando-se junto à réplica da estátua do Araribóia

Vendedoras mirins fotografando-se junto à replica da estátua do Araribóia, na rua Sete, e filmadas por Erly Vieira (2ª foto); Horrana de Kássia Barboza Santos, Patrícia Mendonça Almeida e Tamires Teixeira Nepomuceno; Patrícia e o comerciante que lhe emprestou o cocar para as fotos.

Fotos de Michele Cristine Marques Rebello e Giovanna Maria Pereira Faustini

Esta modalidade foi utilizada, sobretudo, com a instalação O retorno do Araribóia (Coletivo Maruípe), em que uma réplica da estátua do herói esculpida na década de 50 por Carlo Crepaz, posicionada na Avenida Beira Mar, “perambulou” pelas ruas e pontos históricos do centro da cidade, surgindo a cada dia num lugar diferente apontando para alvos emblemáticos de poderes na sociedade, como a estátua de Pio XII, o palácio do governo, dentre outros.
Munidos de máquinas fotográficas os monitores convidavam a população a tirar fotografias ao lado da figura do índio em posição de luta, ainda que sem o arco e a flecha, perdidos da escultura original, como se cada local de combate do Araribóia em seu retorno ironicamente se tornasse em um novo “ponto turístico”.
Os monitores saíam à rua com câmera de vídeo, registrando depoimentos dos passantes, convidados a “escolherem” locais para os quais a estátua poderia ser levada no dia seguinte. Foi uma forma de colocar o público na posição do artista, experimentando, ainda que hipoteticamente, a decisão acerca do destino da obra. Várias questões surgiram daí como, por exemplo, indagações indignadas sobre o lugar do índio no Brasil deste início de século, o fato da estátua possuir traços físicos europeus, a rememoração de uma antiga marchinha de carnaval intitulada “Bota o índio no lugar”, referência ao fato de que a estátua, tal qual o próprio herói que lhe inspirou, ter tido um longo período de nomadismo, sem lugar fixo, transitando, nas décadas de 60 e 70, por diversos pontos da cidade, e até mesmo tendo sido esquecida por alguns anos num depósito da prefeitura.

5. Divulgação junto aos anônimos formadores de opinião

Patrícia Mendonça Almeida e Michele Cristine Marques Rebello com motoristas da linha Vitória/Guarapari

Giovanna Maria Pereira Faustini com guardas municipais

Giovanna Maria Pereira Faustini e Marcel Nascimento Rosa em banca de jornal


Marcel Nascimento Rosa com vendedora ambulante Fotos Célia Ribeiro

A divulgação explícita da Bienal foi realizada, sobretudo com os guardas municipais, garis, jornaleiros, vendedores ambulantes que trabalham na região onde estavam situadas as intervenções da Bienal, bem como com os freqüentadores habituais das praças. O foco nessas pessoas foi determinado pela suposição de serem formadores de opinião anônimos na malha urbana. Sua presença fixa no território da cidade, ponto de passagem para a maioria dos transeuntes, torna-os referência para muitos dos que atravessam o centro de Vitória. A afirmação das pessoas abordadas sobre a importância das informações que estavam recebendo, tendo em vista serem constantemente indagados por pedestres, fregueses ou não, a respeito das intervenções do 8º Salão Bienal do Mar, confirmou nossa hipótese.

Foi muito curioso constatar algumas conclusões sobre certas intervenções, sobretudo a linha azul do Caminho das Águas. Interpelados por monitores alguns transeuntes afirmavam que era uma demarcação realizada pela Prefeitura Municipal de Vitória do percurso onde a fiação elétrica dos postes seria embutida. Outros diziam que indicava um circuito turístico envolvendo as construções tombadas pelo Patrimônio Histórico e os equipamentos culturais disponíveis na região.

6. Panfletagem
Realizadas aos sábados na Avenida Beira Mar e na Praia de Camburi.
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Michele Cristine Marques Rebello e Patrícia Mendonça Almeida em ônibus da linha Vitória/Guarapari

Patrícia Mendonça Almeida com pescadores da Avenida Beira Mar
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Rejane Afonso Teixeira no ponto de ônibus da Praça Papa Pio XII

Márcia Rodrigues Garcia do Vale no ponto de ônibus da Praça Papa Pio XII


Márcia Rodrigues Garcia do Vale e Michele Cristine Marques Rebello no ponto de ônibus da Praça Papa Pio XII Fotos Célia Ribeiro

7. Oficinas para a comunidade

Foram realizadas três oficinas. Uma para a terceira idade, uma para alunos da 7ª série do ensino fundamental e uma para os internos do Instituto de Atendimento Sócio Educativo do Espírito Santo (IASIS)
Nas duas primeiras oficinas buscou-se contrapor o circuito expositivo oficial (museu, galeria e esculturas em praças públicas) do entorno com as intervenções urbanas, para um grupo cuja grande maioria sequer havia estado em um museu de arte anteriormente. Foi proposto a cada participante conceber alguma forma de intervenção urbana voltada para a comunidade em que vive, de modo a ampliar a discussão de pertencimento afetivo à paisagem urbana que o Salão Bienal do Mar propunha.

Oficina para a 3ª idade, Tamires Nepomuceno e Patrícia Almeida apresentando as instalações da Bienal, na platéia Michele Rebello

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Oficina para a 3ª idade, visita ao Museu de Arte do Espírito Santo, conversa a partir das placas de alerta de "Atenção Arte"

Oficina para a 3ª idade, entre os espelhos de "Nós vemos a cidade como a cidade nos vê", entre as senhoras, os monitores Marcel Nascimento Rosa e Lucas Tristão ferreira
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Oficina para a 3ª idade, encontro com a réplica do Araribóia
Fotos de Michele Cristine Marques Rebello e Giovanna Maria Pereira Faustini

A terceira oficina surgiu de uma proposta lançada a um dos monitores. Impossibilitado de participar das atividades realizadas nos finais de semana, por lecionar informática para adolescentes infratores internos do IASES, o estudante de artes Marcel Nascimento Rosa aceitou trabalhar a proposta da exposição em suas aulas. Como esses adolescentes não poderiam se deslocar para fora da instituição, Marcel apresentou o material da ação educativa, contendo imagens das intervenções realizadas pelos artistas e, em contrapartida, os alunos produziram uma apresentação em PowerPoint na qual eles apresentaram suas propostas, como se também fossem participantes do Salão Bienal do Mar. Dentre as obras, incluem-se trabalhos surpreendentes, como uma cabine de vidro, blindada, na qual o presidente da República e o governador do Estado poderiam entrar e ouvir as reclamações da população carente (os jovens ainda reforçaram que “ninguém ia bater neles, eles apenas teriam que escutar”), ou uma grande instalação com gigantescos bonecos de rapazes e moças boiando pela baía de Vitória, intitulada Era isso que vocês queriam?, numa referência direta à exclusão social pela qual esses jovens passam e que encontram do crime uma alternativa sedutora.

Monitores

Eliana Mendes Carneiro, Filipe Frauches Mecenas, Giovanna Maria Pereira Faustini, Horrana de Kássia Barboza Santos, Ítalo Ângelo Pereira Galiza, Lucas Tristão ferreira, Marcel Nascimento Rosa, Márcia Rodrigues Garcia do Vale, Mariana Schmidt, Michele Cristine Marques Rebello, Patrícia Mendonça Almeida, Rejane Afonso Teixeira, Talita Goulart Arrivabene, Tamires Teixeira Nepomuceno, Thiago Luiz Dutra.