Palavras Compartilhadas - Rosana Ricalde: Oficinas para professores e material didático de apoio

Agosto a setembro de 2011 Promoção: Serviço Social do Comércio - Sesc. Local: Escola de Ciência Física, no Parque Moscoso.

foto2: Carlos Antolini\ 
Oficinas sobre a produção plástica de Rosana Ricalde para professores das redes públicas municipal e estadual do Espírito Santo e monitores - planejadas e ministradas por Célia Ribeiro
fotos da exposição - facebook Sesc-ES
Trinta e cinco professores de Artes, Língua portuguesa e Ciências da PMV e cinquenta de Artes, Língua ortuguesa e Educação Física de 18 escolas da Grande Vitória e dez monitores participaram de oficinas realizadas em julho e agosto na Escola de Ciência física em Vitória.
O treinamento teve como objetivo instigar uma relação pensante com a produção artística de Rosana Ricalde, bem como estimular o desejo, por parte dos professores, de levar seus alunos para visitarem a exposição e de planejar atividades em sala de aula que dialoguem com os conceitos e|ou a fatura dos trabalhos da artista.
Sendo a maioria dos participantes das oficinas leigos em termos de artes visuais,  foi necessário uma introdução que estimulasse a refletir sobre o conceito de artes visuais.  
Como a produção de Ricalde em Palavras Compartilhadas parte da apropriação de textos poéticos, arte popular e manifestos artísticos brasileiros, estabelecendo uma interlocução com escolas artísticas modernas e a pós-modernidade, foi indispensável introduzir informações visuais, factuais e analíticas sobre a história da arte brasileira. 
Oficinas para os professores da PMV, monitores da Escola da Ciência Física e da exposição Palavras Compartilhadas
Com quatro horas de duração, foram iniciadas com uma discussão, mediada por data show, sobre conceito de arte e história da arte brasileira, seguidas de uma visita à exposição. Após um breve intervalo para café, conversou-se sobre os trabalhos de Ricalde em Palavras Compartilhadas para então ser apresentada sua trajetória artística através de data show e vídeos, e aprofundado o debate pensante sobre sua produção e possibilidades de desdobramentos de trabalhos em sala de aula a partir de conceitos, fatura e temáticas abordadas pela artista.
Oficinas para os professores da RMGV
Com oito horas de duração, além do módulo das oficinas para os professores da PMV, na parte da tarde os professores reuniram-se em grupos por escola para pensarem em atividades interdisciplinares envolvendo questões relacionadas á produção artística de Rosana, finalizando com a apresentação das propostas elaboradas para a totalidade dos participantes.

Data shows produzidos para as oficinas e disponibilizados pelos professores 
1. Trajetória artística de Rosana Ricalde até julho de 2011 http://pt.scribd.com/doc/66117476/
2. Intervenções urbanas de Rosana Ricalde em parceria com Felipe Barbosa: http://pt.scribd.com/doc/66207409/
3. Texto de apresentação de Rosana Ricalde para professores da rede estadual de ensino do ES: http://pt.scribd.com/doc/66279530


Artigo de jornal sobre Palavras Compartilhas
Ribeiro, Célia. Metáforas Visuais. A Gazeta, Vitória, p. 07, Caderno Pensar, 13 ago. 2011.
METÁFORAS VISUAIS
Na exposição "Palavras Compartilhadas", em cartaz na Capital, Rosana Ricalde cria obras a partir de leituras que a instigam
"[...] quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis".
Sobre a Multiplicidade In CALVINO, Ítalo. Seis Propostas para o próximo milênio. São Paulo: 2ª Ed.Companhia das Letras, 1998
A artista Rosana Ricalde, reconhecida nacional e internacionalmente - sua produção já se fez ver na Argentina, Croácia, Espanha, França, Holanda, Japão, México, Porto Rico, Portugal e São Tomé e Príncipe – produz visualidades que dialogam com textos da história da arte do século XX, com obras da literatura nacional e européia e com ditados populares.

Sua matéria plástica é a palavra. Ao fundi-las com imagens Rosana desfaz fronteiras criadas no ocidente entre duas ordens de produção de conhecimento, a sensível, representada pela visão, e a lógica, a partir do texto.

Ela cria seus objetos a partir de leituras que a instigam. E no resultado surgem questões relacionadas ao espaçamento entre o texto e sua recepção, entre o dito e o lido. E nesse espaçamento as possibilidades de apropriação, recriação, combinação do acervo cultural que temos à nossa disposição.

Lúdica, a exposição Palavras Compartilhadas apresenta vinte e quatro trabalhos produzidos entre 2002 e 2007, agrupados em sete séries: Globo, Contrapoemas, Auto-retratos, Provérbios, O tempo muda tudo, Mares e Manifestos.

A primeira série está representada pelo objeto Marco Polo, um globo envolto pelas frases do livro As Viagens de Marco Polo.
Os Contrapoemas incluem duas obras. Cada uma contém um poema de Manoel Bandeira, Versos escritos n’água e Desesperança, transcritos com letras pretas em vinil adesivo aplicado sobre vidro transparente, tendo ao lado outro poema construído por Rosana com palavras antônimas. As versões da artista encontram-se em letras brancas e podem ser lidas apenas na sombra que projetam na parede.
Nos auto-retratos Ricalde apresenta cinco quadros com poemas com este título de Mário Quintana, Cecília Meireles, Manoel Bandeira, Augusto Massi e Graciliano Ramos. Os poemas foram reproduzidos com fita rotuladora e montados em tamanhos que remetem ao padrão dos quadros de artistas que fizeram seus auto-retratos. Cada autor é trabalhado em uma única cor, de maneira que de longe vemos as cores emolduradas, como em obras minimalistas dos anos 60 do século XX, e ao nos aproximarmos percebemos e podemos ler os textos. Neste jogo de auto-retrato em que apresenta o outro através de rótulos (fita rotuladora), a artista nos instiga a dialogar com a obra.
Em Provérbios nos deparamos com uma tela pintada com letras de forma em diferentes cores. À disposição dos visitantes estão dois óculos, um com lentes vermelhas e outro azuis. Eles funcionam como filtros. Ao usá-los sobressaem as letras mais fortes da cor não filtrada e podemos então ler um provérbio.
Em O tempo muda tudo, Rosana traz para a galeria três vidros com areia colorida que encomendou a artesãs cearenses. Cada um, além da tradicional paisagem, contém um trecho do título. Completam esta série cinco fotografias onde os vidros aparecem dispostos diferentemente.
Mares é composta por dois desenhos realizados com a escrita cursiva da artista sobre papel artesanal azul. Na série Manifestos, também conhecida como Exercício das possibilidades, Rosana Ricalde apresenta seis trabalhos gráficos realizados a partir de manifestos artísticos emblemáticos da produção visual brasileira (Manifestos Antropófago de 1928, Ruptura de 1952, Neoconcreto de 1959 e o texto O objeto, de Waldemar Cordeiro, de 1956).
Vale a pena entrar na galeria onde se encontram os trabalhos de Ricalde, como quem entra em um espaço povoado de metáforas visuais, permitindo-se ler/ver as obras com a mesma liberdade e alegria com que a artista dialogou com as referências culturais que acessa e plasma.
Célia Ribeiro
Mestre em estudos literários pela UFES, artista plástica e arte-educadora

Oficinas para professores da rede municipal de Viana – Exposição URU-KU - as disciplinas esquecidas

foto: Tom Boechat

URU-KU - disciplinas esquecidas, Josely Carvalho

Projeto “Re-Invenção de uma cidade”, curadoria Neusa Mendes
Curadoria pedagógica Célia Ribeiro
Galeria de Arte Casarão, Viana, ES - fevereiro a julho de 2011

A artista Josely Carvalho, paulistana que vive entre Nova York e Rio de Janeiro, fez de Viana o seu ateliê, estreitando o diálogo entre a comunidade de Araçatiba, os jovens do bairro Marcílio de Noronha e a arte por meio de vivências, workshops e oficinas narrativas, orientados por ela, com a coordenação pedagógica de Célia Ribeiro.

Oficinas Reflexivas para professores

As oficinas reflexivas sobre a exposição URU-KU – as disciplinas esquecidas envolveram professores de Biologia, História e Artes da rede de ensino público municipal de Viana, e desdobrou-se em três etapas.

Inicialmente os professores foram recepcionados na Galeria Casarão e apresentados ao Programa de Residência Artística de curadoria de Neusa Mendes, iniciado em dezembro de 2010 com a exposição Silentio, de José Rufino, resultado da seleção do projeto [Re]invenção de uma cidade pelo Edital Nacional Arte e Patrimônio-2009. Neste momento foi destacado o aspecto fragmentário da geografia urbana de Viana que instigou a curadora do Programa a escolher este município como local para sua intervenção, visando, através das Artes Visuais, promover a interlocução entre moradores de bairros geograficamente afastados.

Em relação à exposição em cartaz foi apresentado o desafio feito à Josely de Carvalho de trabalhar um projeto de arte/olfativa, sob a curadoria de Kátia Canton, buscando trazer à tona cheiros que guardam as memórias do município de Viana. Também foi descrito o envolvimento da artista com as mulheres quilombolas de Araçatiba e jovens de Marcílio de Noronha. Uma breve narrativa sobre a história do quilombo de Araçatiba e a origem do bairro de Marcílio de Noronha deixou claro o desconhecimento por parte da grande maioria dos professores sobre suas peculiaridades.

Na segunda etapa, de visitação da exposição, os professores expressaram os sentimentos e sensações despertadas em cada um a partir dos módulos da exposição, e discutiram interlocuções possíveis de serem estabelecidas com seus alunos quando levados para visitá-los.

O depoimento,em uma das oficinas, de Wilberth Rodrigues, de Marcílio de Noronha, sobre o envolvimento dos jovens deste bairro com a exposição explicitou o quanto o contato com Josely e o desafio que tiveram auxiliou em uma nova percepção do olfato. Ressaltou que o vídeo, integrante da exposição e produzido com a participação destes jovens, gerou um sentimento de acolhimento pelo grupo do bairro onde residem, fortalecendo os vínculos entre eles e a intensificação de seus encontros e atuação que frutificou na criação do cineclube Cine Via no bairro.

Para concluir foi projetado um data show sobre a trajetória artística de Josely de Carvalho. A partir dele foi desencadeado um debate sobre as temáticas abordadas pela artista (feminismo, violência urbana, guerras étnicas e civis, ofensivas militares empreendidas pelos EUA “contra o terror”, luto, morte, memória, destruição da natureza e de uma cultura por outra), e analisada sua produção artística. Durante toda a discussão foram ressaltadas possibilidades de se trabalhar de maneira interdisciplinar a partir da produção da artista.

Os arquivos digitais produzidos pela curadoria pedagógica contendo textos sobre a produção de Josely de Carvalho e temas abordados em suas exposições, e o data show apresentado, foram disponibilizados para os professores.

O processo da oficina permitiu aos professores vivenciarem as potencialidades de sensibilização de seus alunos para diversas temáticas a partir da experienciação de exposições de artes visuais.

Célia Ribeiro -Curadora Pedagógica
Fotos Waldson Menezes
http:||arteepatrimonio.wordpress.com